quarta-feira, 7 de março de 2012

Meu fim de semana - A arte pela arte

No dia quatro de março, minha mãe e eu fomos visitar a exposição dos painéis “Guerra e Paz” de Cândido Portinari no Memorial da América Latina.
Ao passar pelo acesso principal do metrô / estação Barra Funda, me deparei com um grande pátio a céu aberto. O calor do meio dia e o céu azul nos convidava para um ótimo passeio de domingo.

À minha direita havia uma biblioteca cujos livros e quadros eram dispostos em prateleiras para apreciação do público e possível venda.
À minha esquerda havia uma galeria onde foram expostos os estudos de Portinari. Desde jornais e cartas até esboços de pequenos desenhos feitos em anos distintos que depois juntos formariam sua grandiosa obra.
Decidi primeiro apreciar os esboços de Portinari na “Galeria Marta Traba e Espaço Educativo”.
Feitos primeiramente a lápis, rabiscados no mesmo sentido formando simples desenhos, porém bem traçados. Os mesmos foram depois ampliados e refeitos com tinta a óleo em madeira, tornando-se admiráveis quadros.
Aqueles que chamaram minha atenção não puderam ser fotografados, já que os seguranças impediam que imagens fossem registradas. Porém a astúcia de uma estudante de jornalismo falou mais alto. Consegui uma foto da “Fera” um esboço feito no ano de 1955.

Não tive tanta sorte com os outros que gostei: “A morte cavalgando” de 1955, “Mãe” de 1955, “Mulher chorando” de 1956-1958, “Morto” de 1958, “Mãos Entrelaçadas” de 1955, “O menino brincando” de 1955 e dois quadros diferentes um denominado “Paz” de 1952 e o outro “Guerra” do mesmo ano.
Os dramáticos desenhos representam a agonia de mães que perderam seus filhos na Guerra e os mortos que dela restaram. E a felicidade que reina de uma “Terra de paz” com pessoas em comunhão, dançando em roda e brincando.
Havia escrituras nas paredes enaltecendo a obra de Portinari e sua vida.
Segundo Jorge Amado, “Cândido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente.
Com seus painéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros – camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem – são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura”.
Para Cecília Meireles, “Há muito tempo Portinari ensaiava o gesto de pintar fora dos quadros (...), de dar vôo aos passarinhos pintados e construir flores que desabrochassem todas as manhãs e adormecessem todas as noites. Compreende-se que os segredos da terra estivessem dentro dele, com as cores do mundo separadas, para que ele as reunisse nas suas invenções sobre telas”. Foi apresentado também um curta-metragem com a vida do artista.
Depois de passar pela “Galeria Marta Traba e Espaço Educativo” fui ao “Salão de Atos Tiradentes” onde peguei uma fila considerável, mas rapidamente entramos no salão principal.
O ambiente era escuro, os painéis “Guerra e Paz” estavam de lados opostos. Eram grandes demais. Os seus 14 X 10m faziam as pessoas curvarem as cabeças para apreciá-las. Pareciam dois monumentos, duas obras majestosas encantavam as crianças que deitavam no chão para não perder um só detalhe. Suas mães e pais contavam a história de Portinari e explicavam o que eram os murais.
Os adultos e jovens reunidos em círculos pareciam fascinados, risonhos e não paravam de tirar fotos. Neste ambiente, as fotos sem flash eram permitidas.
Após alguns minutos, fomos convidados a assistir novamente a um curta-metragem cujo narrador apresentava as obras de Portinari e explicava cada figura dos painéis com uma música de fundo que nos trazia fortes emoções como o medo e a tristeza da guerra e tranqüilidade da paz.
O último lugar a ser visitado, foi a Biblioteca Latino Americana, em que pude constatar a presença de outras grandes obras como livros e quadros.
Após o almoço, decidimos aproveitar à tarde num passeio ao ar livre no Parque Dr. Fernando Costa, localizado na Av. Francisco Matarazzo.
O parque é um local de natureza vasta e exuberante, com espaços para leitura e exercícios para a terceira idade. Além de atrações como o Aquário, a Arena, a Casa de Caboclo, e a Biblioteca.
É um passeio para a família, sendo que podemos encontrar pessoas de todas as idades.
Neste domingo a atração era o samba de roda. Nós conversávamos à sombra das árvores, tomávamos água de coco e fazíamos amizade ao som de sambas antigos e românticos como “Carinhoso” de Marisa Monte.
Tocados magistralmente por experientes violonistas, saxofonistas e flautistas. A célebre manifestação artística fazia suspirar um jovem casal de namorados.



As mulheres maduras cantarolavam baixinho em coro e os homens se balançavam no ritmo da música.
Após algumas horas, com o tempo já ameno, andávamos pelo parque quando avistamos galos, galinhas e seus pintinhos ciscando. Uma das atrações naturais do parque é dar pipoca ou pão aos animais e às vezes fotografá-los.
Um cardume de peixes coloridos, bela criação da natureza, se amontoava no lago para receber comida, e os cisnes faziam festa por conta do calor.
O dia terminou com o cansaço em nossas pernas, mas com o maravilhoso sentimento de percepção das coisas comuns que passam despercebidas e são perfeitas, belas e que devemos compartilhá-las sem receber nada em troca. Aprendemos o real significado da arte pela arte.




Os painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que eu já fiz...
...Dedico-os à humanidade...

Cândido Portinari, 1957

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